Poluição pode comprometer a fertilidade
Estudos mostram que a má qualidade do ar pode causar infertilidade em homens e mulheres
Por Aline Ridolfi - https://revistacrescer.globo.com
A poluição pode interferir diretamente na fertilidade de homens e mulheres. É o que indica pesquisas no Brasil e no exterior. Uma delas, realizada pela Sociedade Britânica de Fertilidade, mostrou que no período de maior poluição era possível observar uma quantidade maior de espermetazóides defeituosos. Ao todo, foram analisados material de 35 homens da cidade de Teplice, na República Tcheca - uma área que apresenta altos índices de poluição no inverno, devido à presença de geradores de energia à base de carvão – durante dois anos. Os resultados comprovam a ligação direta das toxinas presentes no ar com a fertilidade dos analisados.
Uma outra pesquisa realizada pela Universidade de Pisa, na Itália, aponta que a agilidade na movimentação dos espermatozóides também é comprometida pelos poluentes – reduzindo assim sua probabilidade de chegar ao óvulo. Cerca de 10 mil homens que moram em centros urbanos com altos índices de poluição foram observados por 30 anos. Neste período o número de espermatozóides contidos em 1 mililitro de esperma diminuiu de 71 milhões para 60 milhões. Além disso a velocidade da movimentação deles foi reduzida de forma considerável.
Uma das mais novas pesquisas realizadas no Brasil é a do Instituto Nacional de Análise Integrada de Risco Ambiental da Universidade de São Paulo. Criado recentemente para avaliar de forma detalhada os prejuízos causados pela poluição, o instituto reunirá 400 grávidas paulistanas dos mais diferentes perfis e que moram próximas ou distantes da poluição.
As mulheres serão acompanhadas durante todo o período de gestação e seus filhos até os três anos de idade. Sob a coordenação do professor Paulo Saldiva, o objetivo é analisar distúrbios como o autismo, baixo peso e obesidade, entre outros problemas, colocando efetivamente no papel as exatas conseqüências da poluição.
Além da infertilidade
Prejudicar espermatozóides não é a única seqüela causada pela poluição. Um estudo recente, coordenado pelo urologista Jorge Hallak, diretor-executivo do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas, mostrou que a exposição a substâncias tóxicas não interfere só na fertilidade, mas também no sexo do bebê.
Entre 2001 e 2003, 29 áreas com estações de medição de poluentes foram posteriormente divididas em três grupos e analisadas, de acordo com a concentração de poluentes. Em seguida, os pesquisadores avaliaram os registros de nascimentos nessas áreas. Nas regiões mais poluídas, o número de meninas chegou a 49,3% contra 48,3% nas áreas com menor índice de poluição. A diferença foi de 1%, o equivalente a 1.180 bebês a mais do sexo feminino. Baseado nos resultados, Dr. Hallak acredita que os poluentes interfiram na seleção do esperma, alterando a proporção que carrega o cromossomo X ou Y.