Estresse do pai durante a gravidez também pode prejudicar o bebê, diz estudo

Entenda por que a saúde mental do homem também deve ser trabalhada durante a gestação.

Elisa Feres – Revista Crescer


 

Quem já passou por isso sabe: a gravidez é um dos momentos mais emocionantes e complexos da vida de uma mulher. Lidar com gestantes, porém, não costuma ser uma tarefa fácil. Enquanto o feto se desenvolve, a futura mãe sofre mudanças hormonais bruscas que refletem em seu comportamento. Nesse caso, o papel de seu companheiro é o de manter a calma e o equilíbrio dentro de casa – senão o próprio bebê pode ser prejudicado.

É o que um novo estudo, publicado no jornal Pediatrics, acaba de comprovar. Pesquisadores noruegueses usaram dados do Norwegian Mother and Child Cohort Study(um dos relatórios mais completos sobre gravidez e nascimentos do país) para avaliar como a saúde mental do pai interfere no desenvolvimento do feto e, posteriormente, no comportamento da criança. Pesquisas anteriores já haviam analisado as influências da saúde mental da mulher nesse processo.

Após comparar informações de mais de 31 mil famílias, os cientistas concluíram que altos níveis de estresse do pai podem causar problemas comportamentais e emocionais no filho. A neurologista Saada Ellovitch, do Hospital Samaritano (SP), explica como isso acontece. “A irritabilidade é contagiosa. Eu posso estar totalmente calma em determinado momento e ficar extremamente nervosa em outro, dependendo do ambiente. Algumas pessoas mais controladas conseguem reagir menos quando são expostas ao estresse, mas a maioria se contagia facilmente. Isso quer dizer que, com a convivência, a irritabilidade do futuro pai vai passar para a gestante e, quando isso acontecer, o aumento nos seus hormônios de estresse vai influenciar na formação dos neurotransmissores do feto”. 

Outra hipótese para explicar os resultados do estudo, segundo ela, diz respeito ao que acontece depois do nascimento do bebê. Se o pai está muito estressado durante a gravidez, as chances de continuar no mesmo estado após o parto são altas. “E já é comprovado que ambientes agressivos predispõem as crianças desde cedo a terem problemas comportamentais”, afirma.

Problemas para a criança

De acordo com o psicobiólogo Ricardo Monezi, pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da Unifesp, se o bebê for exposto direta ou indiretamente ao estresse do pai, pode desenvolver diversos tipos de problemas. Ele pode ficar agressivo, arredio, inquieto e ansioso e ter dificuldade para lidar com outras pessoas. Em casos mais graves, pode ficar introspectivo e desenvolver até mesmo fobia social e depressão.

Se o seu filho apresentar alguns desses sintomas, porém, não faça nenhum diagnóstico precoce. Eles podem ser atribuídos ao estresse, mas também a outros tipos de problema – que só o psicólogo é capaz de identificar. “O diagnóstico em crianças é difícil, o estresse costuma ser confundido com déficit de atenção, hiperatividade e diversos outros transtornos. O importante é que a família esteja atenta e, se observar algum comportamento diferente, procurar ajuda. O estresse é uma síndrome, e, como acontece com qualquer outra, quanto mais cedo for diagnosticado, mais cedo poderá ser resolvido”, diz.

Como evitar

Quando o pai se vê diante da possibilidade de ter um filho, não há como não aparecer instantaneamente uma série de preocupações em sua cabeça. Como posso ser um bom pai? Como vou educar meu filho? Como vou mostrar a ele o que é certo e o que é errado?

É natural que, assim como a mulher, ele fique um pouco ansioso com a situação. O importante é saber como manter o controle. Praticar uma atividade física, exercícios de respiração, meditação, acupuntura e terapia são algumas das alternativas que podem funcionar. “O homem precisa entender as transformações pelas quais a mulher passa durante a gestação e compreender que tudo aquilo é muito mais difícil para ela do que para ele. Assim poderá ser, de fato, seu parceiro”, diz Monezi. “Pais estressados geram filhos estressados, que vão crescer e se tornar adultos estressados. É um ciclo que só deixa o mundo pior do que está. A responsabilidade de minimizar esses danos é de todos nós e vem desde o momento da concepção de nossos filhos”, finaliza.

Outra fonte: Eduardo de Souza, ginecologista e obstetra do Hospital São Luiz (SP)